Introdução
Ao longo dos séculos, chá e Oriente foram quase sinônimos. Mas, nas últimas décadas, um novo aroma começou a se espalhar pelas vielas de Xangai e pelas ruas de Tóquio: o do café fresco e artesanal. Este é o Café no Oriente.
Apesar de ter chegado tardiamente à Ásia Oriental, o café se estabeleceu com força e originalidade na China e no Japão, dois países profundamente enraizados na tradição do chá. A convivência entre as duas bebidas gerou uma cultura única, que combina ritualidade, estética, inovação tecnológica e uma sofisticação silenciosa.
O que você vai descobrir:
- Como o café foi introduzido na China e no Japão
- A reação cultural e histórica ao grão ocidental
- A convivência (e concorrência) entre chá e café
- O surgimento das coffee shops modernas
- E como o Oriente está redefinindo o futuro do café
A chegada do café na China — plantando raízes devagar
O café chegou à China por volta do século XIX, trazido por missionários franceses e comerciantes europeus. Porém, o consumo era mínimo, limitado às elites ocidentais que viviam em Xangai, Macau e Hong Kong.
Foi apenas no final do século XX, com a abertura econômica chinesa, que o café começou a ganhar espaço entre os jovens urbanos.

👉 A província de Yunnan é a principal região produtora de café na China, responsável por mais de 95% da produção nacional. Imagem gerada por IA.
Em paralelo, foram criadas as primeiras plantações de café em Yunnan, província no sudoeste chinês, que hoje é responsável por mais de 90% da produção nacional. Os grãos de Yunnan têm ganhado respeito internacional por sua qualidade crescente.
📌 Leitura relacionada: Do Pasto ao Palácio: A Jornada do Café na História Antiga
O crescimento das cafeterias — o boom urbano chinês
A verdadeira revolução do café na China começou com a ascensão da classe média, especialmente nas décadas de 2000 e 2010.
Cidades como Pequim, Xangai e Shenzhen se tornaram verdadeiros laboratórios de inovação no café.

👉 Starbucks já abriu mais de 5.400 lojas em mais de 200 cidades na China continental, empregando mais de 60.000 parceiros.
Marcos importantes:
- Entrada da Starbucks na China (1999), hoje com mais de 6.000 lojas
- Crescimento de cafeterias independentes com design moderno e foco em experiência
- Valorização do café especial chinês (Yunnan, Hainan)
A cultura do café tornou-se símbolo de sofisticação, juventude e estilo de vida contemporâneo.
Japão — onde o ritual encontra o espresso
O Japão conheceu o café no século XVII por meio dos comerciantes holandeses em Nagasaki, mas sua adoção em massa só ocorreu no século XX, após a Segunda Guerra Mundial.

👉 Cafeteria japonesa, na maioria antigas lojas de chá, ambiente tranquilo e reservado.
Hoje, o país é referência em:
- Métodos manuais e precisos: Hario V60, siphon, cold brew
- Cafeterias de estilo kissaten: tradicionais, silenciosas, nostálgicas
- Cultura de hospitalidade refinada (omotenashi)
O café japonês é uma extensão de sua estética cultural: controle, minimalismo, paciência e perfeição.
Tradição x modernidade — chá e café no Oriente
Diferentemente de outras regiões do mundo onde o café substituiu o chá, na China e no Japão as duas bebidas convivem de maneira simbiótica.
- O chá representa ancestralidade, espiritualidade e equilíbrio
- O café, inovação, juventude e energia
Essa dualidade está presente nos cardápios, nos rituais e na forma como cada bebida é consumida: o chá ainda é comum em casa, enquanto o café ocupa o espaço público, social e profissional.
As cafeterias do futuro — Café no Oriente ditando tendências
Tanto na China quanto no Japão, as cafeterias se tornaram vitrines de design, tecnologia e experiência sensorial.
Exemplos marcantes:
- Blue Bottle Coffee Japan, com arquitetura minimalista e foco em métodos manuais
- % Arabica, marca japonesa com presença global e forte apelo visual
- Luckin Coffee (China), com foco em delivery, QR codes e pedidos via app
- Cafés de nicho que misturam literatura, arte, moda e café especial
Esses espaços mostram que o Oriente está redefinindo como o mundo consome café — com mais estilo, mais calma e mais propósito.
🔗 Leitura externa: Café no Oriente
Conclusão
A jornada do café no oriente passa pela China e pelo Japão é mais do que geográfica — é cultural e filosófica. Ele não substituiu o chá, mas dialoga com ele em respeito e inovação.
Hoje, o Oriente mostra que é possível consumir café com profundidade estética, consciência ambiental e espírito comunitário. E, acima de tudo, revela que o café pode ser uma ponte entre tradição e futuro.
Se o Ocidente trouxe o grão, foi o Oriente que deu a ele uma nova alma.