Introdução
As encostas íngremes dos Andes guardam mais do que paisagens exuberantes e civilizações milenares.
Os cafés do Peru e Equador.
É ali, entre neblinas e altitudes que superam os 1.200 metros, que florescem alguns dos cafés mais aromáticos e subestimados da América do Sul.
Mesmo que estes países nunca tenham alcançado o volume de exportação de vizinhos como a Colômbia, ambos estão conquistando espaço no cenário global com grãos finos, orgânicos e sustentáveis — produzidos por pequenos agricultores em harmonia com a natureza.
Agora, você vai entender:
- Como o café chegou ao Peru e ao Equador
- As características únicas do café andino
- Os desafios históricos e o recente renascimento do setor
- O papel das cooperativas e da agricultura familiar
- E por que esses dois países são promessas vibrantes no mundo do café especial
A chegada do café nas terras altas andinas: Peru e Equador

👉 O Peru é um importante produtor de café, especialmente de café arábica, cultivado em altitudes elevadas, principalmente nas encostas orientais da Cordilheira dos Andes.
O café no Peru
O café chegou ao Peru por volta do século XVIII, provavelmente vindo do Brasil ou da Guiana Francesa. No entanto, sua produção ganhou força somente no século XX, especialmente na região de Chanchamayo, na selva alta da Cordilheira.
Hoje, o café é cultivado principalmente em:
- Cajamarca
- San Martín
- Junín
- Cusco
As altitudes variam entre 1.200 e 2.000 metros, resultando em grãos com acidez viva, corpo médio e notas de frutas amarelas, nozes e cacau.
O café no Equador
Já o Equador teve contato com o café no início do século XIX. Embora menor em extensão territorial, o país possui uma diversidade climática impressionante. Por isso, é um dos poucos países que produz arábica e robusta de forma expressiva.

👉 As tartarugas gigantes são um símbolo icônico das Ilhas Galápagos (Equador), tanto pela sua importância ecológica quanto pela sua presença marcante na cultura local.
As principais regiões produtoras incluem:
- Loja (arábica de altitude)
- Manabí (robusta)
- Zamora-Chinchipe
- Galápagos (produção simbólica e única)
A riqueza de microclimas permite cafés com perfil floral, equilibrado e de alta doçura.
Café de altitude — o tesouro andino
O que torna o café do Peru e Equador especial é a altitude e a biodiversidade.
Essas condições favorecem:
- Maturação lenta dos grãos
- Complexidade de açúcares e ácidos
- Grãos densos e resistentes
- Notas sensoriais refinadas
Cafés andinos de altitude costumam ser descritos como:
- Aromáticos
- Florais e cítricos
- Com finalização limpa e delicada
📌 Leia também: Da Etiópia para o Mundo: A Fascinante História do Primeiro Café
Desafios históricos e a virada dos cafés especiais
No Peru
Durante décadas, o café peruano era visto apenas como café de base ou commodity, vendido em blends para outros países. Faltava infraestrutura, rastreabilidade e marketing.
No entanto, a partir dos anos 2000, houve uma transformação:
- Criação de cooperativas de pequenos produtores
- Incentivo à produção orgânica e comércio justo
- Participação em feiras internacionais de cafés especiais
- Premiações em concursos como Cup of Excellence
Hoje, o Peru é um dos maiores exportadores de café orgânico do mundo.
🔗 Leitura externa: Café no Peru

👉 – Centro histórico de Quito no Equador
O Equador enfrentou desafios parecidos: foco na produção de robusta de baixo valor e perda de competitividade nos anos 1990.
Nos últimos anos, porém, produtores de Loja e Zamora passaram a investir em microlotes de arábica com perfil gourmet, atraindo compradores da Europa, EUA e Japão.
Além disso, as ilhas Galápagos produzem um café simbólico e exclusivo, de terroir marítimo, extremamente valorizado no nicho de grãos raros.
Cooperativas e agricultura familiar — os heróis anônimos
Tanto no Peru e Equador, o motor da transformação cafeeira é a agricultura familiar e as cooperativas de pequenos produtores.
Esses grupos promovem:
- Treinamento técnico e boas práticas agrícolas
- Certificações (orgânico, Rainforest, UTZ, etc.)
- Comercialização direta com torrefações no exterior
- Empoderamento de comunidades rurais, muitas vezes indígenas
Exemplos notáveis:
- CENFROCAFE (Peru) — cooperativa com mais de 2.000 membros
- APECAEL (Equador) — produtora de cafés premiados da região de Loja
O futuro do café andino
Peru e Equador estão se posicionando cada vez mais como:
- Fornecedores de cafés especiais orgânicos e rastreáveis
- Parceiros confiáveis para torrefações artesanais e microtorrefadores
- Destinos para turismo de experiência cafeeira nas montanhas
O crescimento da demanda por café sustentável e de origem está alinhado com os valores desses dois países.
Conclusão
Embora por muito tempo tenham sido ofuscados por vizinhos maiores, Peru e Equador hoje brilham por mérito próprio.
Com altitudes ideais, biodiversidade, comunidades engajadas e foco em qualidade, os cafés andinos mostram que o verdadeiro sabor do café pode vir de onde menos se espera — das nuvens dos Andes direto para a sua xícara.
Se você ainda não provou um café andino, prepare-se para descobrir um dos segredos mais bem guardados da América do Sul.