🇻🇪 Venezuela: Da Glória ao Esquecimento – A Ascensão e Queda do Café

Introdução

Durante o século XIX e parte do século XX, a Venezuela foi uma das maiores potências cafeeiras do mundo.

Seus grãos abasteciam a Europa, geravam riqueza nacional e influenciavam políticas econômicas.

Mas, o que era sinônimo de prosperidade virou um setor esquecido e em declínio, afetado por políticas instáveis, dependência do petróleo e abandono rural.

Hoje, poucos sabem que os vales venezuelanos já produziram cafés finos, reconhecidos internacionalmente.

Vejam como tudo aconteceu:

  • Como a Venezuela se tornou um gigante do café no século XIX
  • Os fatores que impulsionaram seu crescimento
  • As causas da queda vertiginosa da produção
  • O cenário atual e as iniciativas de retomada
  • E o legado que ainda sobrevive nas montanhas do país

O café chega à República Bolivariana — séculos de cultivo

A introdução do café na República Bolivariana remonta ao século XVIII, trazido por missionários e comerciantes europeus.

Logo, o clima tropical e a geografia montanhosa do país se mostraram perfeitos para o cultivo do grão arábica.

👉 Vilarejo/cidade de Mérida – Venezuela

No século XIX, a produção se concentrou nas regiões de:

  • Táchira
  • Mérida
  • Trujillo
  • Lara
  • Yaracuy

Essas áreas, situadas na Cordilheira dos Andes venezuelana, ofereciam altitudes ideais (1.200 a 2.000m), com temperatura e umidade adequadas para o desenvolvimento de cafés finos.

Século XIX — o apogeu da cultura cafeeira

Entre 1830 e 1930, o café era o principal produto de exportação da Venezuela. Durante esse período:

  • Mais de 60% da receita nacional vinha do café
  • A Venezuela chegou a ser o terceiro maior produtor mundial
  • Café era sinônimo de status e riqueza para elites rurais
  • As cidades cafeeiras floresciam com infraestrutura e comércio

Neste período a forma mais comum para o transporte da produção era o uso de ferrovias, burros e portos, tendo como destino a Europa.

Os grãos venezuelanos eram valorizados por sua doçura, corpo médio e aroma achocolatado.

📌 Leitura relacionada: Colômbia: A Terra do Café Suave e o Nascimento de uma Marca Global

👉 Transporte público em Mérida

A decadência — petróleo, política e abandono do campo

O boom do petróleo

Com a descoberta de grandes reservas de petróleo nos anos 1920, a economia migrou rapidamente do campo para o setor energético.

A agricultura, antes protagonista, passou a ser vista como secundária.

Consequências diretas:

  • Migração rural para áreas urbanas e petrolíferas
  • Queda na mão de obra agrícola
  • Falta de incentivos à produção cafeeira
  • Infraestrutura cafeeira obsoleta

🔗 Leitura externa: A história do Café Venezuelano

Crises políticas e instabilidade

A partir dos anos 1990, o país enfrentou:

  • Crises econômicas cíclicas
  • Hiperinflação
  • Nacionalizações e burocracia rural
  • Falta de insumos agrícolas e insegurança nas áreas produtoras

Esses fatores culminaram em um colapso quase total da indústria cafeeira nacional.

👉 Igreja de Trujillo

A situação atual — resistência e tentativa de renascimento

Hoje, a Venezuela produz apenas uma fração do que produzia em sua época áurea. Estimativas apontam que o país consome mais café do que é capaz de produzir.

Ainda assim, há sinais de esperança:

  • Pequenos produtores familiares em Mérida, Lara e Trujillo continuam cultivando cafés de forma artesanal
  • Iniciativas de cooperativas independentes e microtorrefações locais
  • Exportações pontuais de microlotes de qualidade especial para Europa e EUA
  • Preservação de sementes tradicionais de arábica (como Typica e Bourbon)

Mesmo que ainda distante do protagonismo, há um movimento silencioso tentando reconstruir a imagem do café venezuelano, com foco na qualidade e não no volume.

Um legado que resiste nas montanhas

Apesar da decadência, o café ainda ocupa um espaço simbólico importante na cultura da Venezuela:

  • Presente em rituais cotidianos e nas manhãs de todo venezuelano
  • Comercializado em mercados populares e feiras rurais
  • Evocado em canções, livros e memórias de gerações passadas

Além disso, baristas e torrefadores jovens, mesmo com recursos limitados, estão resgatando o orgulho e a tradição cafeeira nacional.

Conclusão

A história do café na Venezuela é um lembrete poderoso de que nenhuma cultura cafeeira é imune ao tempo, à política e às mudanças econômicas.

De potência mundial a setor quase esquecido, a trajetória venezuelana reflete os altos e baixos de um país em transformação. Mas também revela a resiliência de seus agricultores, o valor da tradição e a possibilidade de renascer mesmo em tempos difíceis.

Em cada xícara de café venezuelano há memória, esforço e esperança. E talvez, em breve, também haja reconhecimento global novamente.

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