Introdução
Durante o século XIX e parte do século XX, a Venezuela foi uma das maiores potências cafeeiras do mundo.
Seus grãos abasteciam a Europa, geravam riqueza nacional e influenciavam políticas econômicas.
Mas, o que era sinônimo de prosperidade virou um setor esquecido e em declínio, afetado por políticas instáveis, dependência do petróleo e abandono rural.
Hoje, poucos sabem que os vales venezuelanos já produziram cafés finos, reconhecidos internacionalmente.
Vejam como tudo aconteceu:
- Como a Venezuela se tornou um gigante do café no século XIX
- Os fatores que impulsionaram seu crescimento
- As causas da queda vertiginosa da produção
- O cenário atual e as iniciativas de retomada
- E o legado que ainda sobrevive nas montanhas do país
O café chega à República Bolivariana — séculos de cultivo
A introdução do café na República Bolivariana remonta ao século XVIII, trazido por missionários e comerciantes europeus.
Logo, o clima tropical e a geografia montanhosa do país se mostraram perfeitos para o cultivo do grão arábica.

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No século XIX, a produção se concentrou nas regiões de:
- Táchira
- Mérida
- Trujillo
- Lara
- Yaracuy
Essas áreas, situadas na Cordilheira dos Andes venezuelana, ofereciam altitudes ideais (1.200 a 2.000m), com temperatura e umidade adequadas para o desenvolvimento de cafés finos.
Século XIX — o apogeu da cultura cafeeira
Entre 1830 e 1930, o café era o principal produto de exportação da Venezuela. Durante esse período:
- Mais de 60% da receita nacional vinha do café
- A Venezuela chegou a ser o terceiro maior produtor mundial
- Café era sinônimo de status e riqueza para elites rurais
- As cidades cafeeiras floresciam com infraestrutura e comércio
Neste período a forma mais comum para o transporte da produção era o uso de ferrovias, burros e portos, tendo como destino a Europa.
Os grãos venezuelanos eram valorizados por sua doçura, corpo médio e aroma achocolatado.
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A decadência — petróleo, política e abandono do campo
O boom do petróleo
Com a descoberta de grandes reservas de petróleo nos anos 1920, a economia migrou rapidamente do campo para o setor energético.
A agricultura, antes protagonista, passou a ser vista como secundária.
Consequências diretas:
- Migração rural para áreas urbanas e petrolíferas
- Queda na mão de obra agrícola
- Falta de incentivos à produção cafeeira
- Infraestrutura cafeeira obsoleta
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Crises políticas e instabilidade
A partir dos anos 1990, o país enfrentou:
- Crises econômicas cíclicas
- Hiperinflação
- Nacionalizações e burocracia rural
- Falta de insumos agrícolas e insegurança nas áreas produtoras
Esses fatores culminaram em um colapso quase total da indústria cafeeira nacional.

👉 Igreja de Trujillo
A situação atual — resistência e tentativa de renascimento
Hoje, a Venezuela produz apenas uma fração do que produzia em sua época áurea. Estimativas apontam que o país consome mais café do que é capaz de produzir.
Ainda assim, há sinais de esperança:
- Pequenos produtores familiares em Mérida, Lara e Trujillo continuam cultivando cafés de forma artesanal
- Iniciativas de cooperativas independentes e microtorrefações locais
- Exportações pontuais de microlotes de qualidade especial para Europa e EUA
- Preservação de sementes tradicionais de arábica (como Typica e Bourbon)
Mesmo que ainda distante do protagonismo, há um movimento silencioso tentando reconstruir a imagem do café venezuelano, com foco na qualidade e não no volume.
Um legado que resiste nas montanhas
Apesar da decadência, o café ainda ocupa um espaço simbólico importante na cultura da Venezuela:
- Presente em rituais cotidianos e nas manhãs de todo venezuelano
- Comercializado em mercados populares e feiras rurais
- Evocado em canções, livros e memórias de gerações passadas
Além disso, baristas e torrefadores jovens, mesmo com recursos limitados, estão resgatando o orgulho e a tradição cafeeira nacional.
Conclusão
A história do café na Venezuela é um lembrete poderoso de que nenhuma cultura cafeeira é imune ao tempo, à política e às mudanças econômicas.
De potência mundial a setor quase esquecido, a trajetória venezuelana reflete os altos e baixos de um país em transformação. Mas também revela a resiliência de seus agricultores, o valor da tradição e a possibilidade de renascer mesmo em tempos difíceis.
Em cada xícara de café venezuelano há memória, esforço e esperança. E talvez, em breve, também haja reconhecimento global novamente.