Introdução
Não é preciso produzir para amar profundamente.
Esse é o caso de Argentina, Chile e Uruguai — três países sul-americanos onde o café não seu principal produto agrícola, mas sim uma forma urbana, estilo de vida e tradição social.
Nestes países o cultivo é limitado ou inexistente em escala comercial, o consumo por habitante está entre os mais altos da América Latina. E nas suas capitais como, Buenos Aires, Santiago e Montevidéu — o café é habitual, ritual, refúgio e ponto de encontro.
A seguir veremos alguns pontos interessantes:
- O histórico e o perfil de consumo nesses países
- A ausência (ou limitação) da produção nacional
- O surgimento de cafeterias de especialidade
- E como o café se transformou em pilar da vida urbana e cultural
Consumo elevado, mesmo sem tradição produtiva
Argentina
Na Argentina a tradição é o consumo do mate, mas também é um dos maiores consumidores de café da América do Sul. Estima-se que o consumo anual por pessoa ultrapasse 1,2 kg por pessoa, superando o de países tradicionalmente produtores.
O café é presença constante em:

👉 Centro de Buenos Aires.
- Cafés históricos no centro de Buenos Aires
- Bares e livrarias portenhas
- Encontros familiares e rotinas diárias
A bebida preferida é o “café con leche”, servido com medialunas*, e o “cortado”, um espresso com um toque de leite vaporizado.
*Medialunas: É um tipo de pão doce folhado, similar a um croissant, no formato de meia lua.

📌 Leia também: Grande consumidor
Chile
Já no Chile, ocorre um fato curioso: o consumo crescente de café em um país tradicionalmente dominado pelo chá.
No últimos 10 anos, as cafeterias explodiram em Santiago e em outras cidades, impulsionadas por:
- Jovens profissionais urbanos
- Cultura de coworking
- Influência de baristas internacionais
- Expansão de cafeterias de especialidade
Ainda que o café solúvel ainda represente uma parte considerável do mercado, o consumo de grãos moídos e frescos vem crescendo rapidamente.
Uruguai
Quando falamos do Uruguai, com seu ritmo tranquilo e refinado, cultiva uma relação mais sofisticada com o café. Montevidéu é repleta de cafés pequenos, acolhedores, que combinam história com toques modernos.
O consumo da população é semelhante ao da Argentina, e o café é muitas vezes apreciado com:
- Alfajores
- Tortas típicas
- Conversas longas à beira do Rio da Prata

👉 Alfajor, assim como na Argentina, são muito apreciados como acompanhamento ao café também no Uruguai.
Produção quase inexistente — por quê?
Localizados no extremo sul do continente, Argentina, Chile e Uruguai não possuem clima, solo ou altitude ideais para o cultivo comercial de café arábica em larga escala.
Fatores que limitam a produção:
- Temperaturas frias no inverno
- Ausência de zonas tropicais úmidas
- Terreno não adaptado para grandes altitudes intertropicais
Produções experimentais
Mesmo com estas situações adversas, algumas iniciativas pontuais têm surgido:
- Projetos de cultivo protegido em regiões do norte da Argentina (Salta e Jujuy)
- Microcultivos em estufas no Chile
- Plantios simbólicos em solo uruguaio voltados à educação e pesquisa
Ainda que não competitivos globalmente, esses projetos mostram o interesse em experimentação agrícola e resgate de práticas locais.
Cultura de cafeterias — onde o café é experiência
Se não há produção, há paixão — e ela se manifesta nas cafeterias.
As três capitais vivem uma explosão da cultura coffee shop, com estabelecimentos que misturam:
- Barismo de alta qualidade
- Arquitetura moderna e retrô
- Eventos culturais e oficinas sensoriais
- Torrefações locais com grãos importados (principalmente do Brasil, Colômbia e América Central)
Alguns exemplos:
- Argentina: Lattente, Café Registrado, LAB Tostadores
- Chile: Colmado Coffee, Original Green Roasters
- Uruguai: Café Brasilero, Café Gourmand, Culto Café
📌 Leia também: As Primeiras Cafeterias do Mundo: O Início do Café como Ritual Social
Perfil do consumidor — exigente e em evolução
O consumidor argentino, chileno e uruguaio é:
- Curioso e aberto a novas origens
- Apaixonado por métodos como V60, prensa francesa e espresso
- Focado em qualidade sensorial e ética de produção
- Conectado com movimentos de sustentabilidade e comércio justo
Essa mudança tem incentivado a:
- Importação de grãos especiais
- Formação de baristas certificados
- Criação de comunidades locais de café
Conclusão
Mesmo sem plantações comerciais, Argentina, Chile e Uruguai mostram que o amor pelo café vai além da lavoura. Esses países são grandes exemplos de como a bebida pode se transformar em cultura, convívio e expressão urbana.
Seja em um café histórico de Buenos Aires, em uma cafeteria moderna de Santiago ou em um cantinho acolhedor de Montevidéu, o café é celebração, pausa e identidade.
E quem sabe, com inovação e paixão, esses países não nos surpreendam também como produtores simbólicos do grão que já conquistaram no coração?